domingo, 24 de abril de 2011


De tanto, ou de tanto em tanto, chega-se a hora que sair à francesa será sempre a melhor opção.
Ao sair de lugares, ao trocar os passos, ao se envolver além da conta.
Ao passar da cota, dos limites. Ao enxergar a sujeira próxima do tapete. E não varrê-la para baixo, mas encarar a vassoura e a poeira.
Ao não ver soluções. Ao pensar que as viu. Para que ninguém me veja sair.
Não é uma maneira bruta de fugir, nem mesmo sutileza para desviar... são incertezas.
E sempre nelas é que me perco.
São anormalidades, uma certa bipolaridade que me toma as vezes.
Mas nem isso ao certo sei dizer se é. Se foi... 
Pra que evite também que todo mal seja alastrado, corto no meio as correntes. Corto sem pena, arrancando raízes. Puxando sem medo, pra ver no que dá. Até onde vai.
Mas devo dizer-lhes, mesmo que não possa olhar nos olhos, sei que a única maneira de me atingir de verdade, é sonhar ilimitadamente. Não suporto realidades, não suporto.
Não tenho saúde pra desamor.
Não tenho espaço pra dor.
Não revejo conceitos sem que nada mude.
Deve-se mudar... nem que mude apenas de lugar, e tudo continue o mesmo.
O que me garante um pouco de suficiência, satisfação, é a enganação de mudanças.
Pois a ordem dos fatores, matematicamente ou não, de fato não altera produto algum...

sábado, 16 de abril de 2011


O que posso dizer hoje, se queres realmente saber,
é que estou cansada.
Simplesmente cansada.
De corpo, de alma, de mente.
Cansada dos desvios, dos desencontros de tantas sementes perdidas, plantadas a esmo, escondidas com o tempo.
Cansada em cada centimetro de meu corpo extenso.
Cansaço de medidas, de limites de fantasias.
Da importância que não é dada, da palavra anunciada de repente, do vazio que preenche todo o peito, toda a rua, toda a noite.
Uma frieza que vai somando aos poucos, se alastrando, multiplicando.
Tudo isso cansa.
Tudo assim destrói.
Todas as formas de machucar, de sentir medo, de ter prazer, demasiado tudo me cansa.
Como se existisse em mim uma corda a ser dada, pra retornar à vida, pra ter novamente sentido.
Minha melancolia me cansa, minha alegria exagerada as veses a outros ferem, esses mesmos também sabem me fazer cansar... 
Então já não encontro um meio de parar, de dar fim à toda reclamação, toda nuvem negra que encobre... E isso tudo, já me cansou demais...


quarta-feira, 6 de abril de 2011


E se queres saber,tu fostes um delírio, dum sonho lento.
Fostes a parte de um sentimento.
Que eu ignoro, sem recentimento.
Se queres então entender, pra tentar me enganar,
não souberas mentir, não souberas amar.
Se não te encomodas, com o que sentia, não aparecestes como então devia,
não olhou nos olhos, não deu direção.
Se escondeu em falso, pela multidão.
Não aprenderas a dançar na festa. Ao abrir a porta, tens de olhar na fresta.
  Invadistes assim o meu corpo cansado. Deixando-me sentir, teu rosto suado, tentando evitar que de idéia eu mudasse,
não tentastes nem mesmo que ali eu ficasse.
Ratalhastes por fim, todo pensamento, todo sonho tido, levado pelo vento, jogastes mundo afora, como se em cada hora, pudesse ter-me. Vir-me , sentir-me.
Não, nem apenas uma vírgula mereces, nem meu tempo lembrando-te em minhas pequenas preces,
nem os minutos que passados, se esconderam. Nem em teus músculos meus olhos se perderam.
Nem tampouco existe algo de mim entre nós.
Não pedi silêncio, não calei tua voz. Não te acelerei, nem te reprimi.
Não me interrompeu, não me iludi, nem me escondi. Não acreditei, em palavra alguma sequer, e da maneira crua que se foi, nada mais trarás quando vier.
E se queres por fim saber, apenas pra que possas refletir ao entender,
que nunca fostes homem, nem souberas ser.

domingo, 3 de abril de 2011


Não sabes o quanto odeio sentir o gosto de tua boca na minha repentinamente. Numa simples conversa ele vem, me toma interrompe meus pensamentos, para logo lembrar-te.
Não sabes o quanto não suporto os sustos que levo quando vejo alguém que se assemelhe a ti vagando pelas ruas, descendo ladeiras, perdendo-me das suas.
Quando escuto o telefone tocar baixo, e abrindo-o não vejo o teu nome ali escrito. E assim meu coração que de tanto acelerado se cansa, desacelera, desilude.
Não sabes o quanto odeio derrapar em suas mentiras, escorregar outra vez em teus braços, errando, e confesso que já estou farta de tantos dias errados.
Tantos erros num único dia.
Não sabes, o quanto encomoda não conseguir esquecer-te nem apenas por um minuto completo. E me atropelo sentindo teu cheiro, me machuco querendo encontrar-te, me sufoco, cortando lenha para que aqueça esse frio no peito.
Não sabes, que essa insistente, inconveniente lembrança, tem me feio tão mal, tem dolorido tanto, tem desrespeitado meus limites, minhas decisões.
Não sabes como tem sido a convivência comigo mesma nesses últimos dias. Como têm sido irritante ver-me no espelho, e não ver meu sorriso aparecer.
 Tendo que aceitar a convivência com a tristeza.
Tendo que pensar tantas vezes antes de sair de casa, tendo que me privar de coisas que não sei porque, tem dado-me vontades de fazer.
Não posso esperá-lo na porta. Não posso procurar-te, não posso enfeitar minhas noites.
 Censuram-me no modo de agir, censuram-me na maneira de falar, censuram-me quando começo a caminhar.
Não suporto tantas expectativas depositadas, tantos sonhos frustrados, tantas voltas lamentadas.
Não sabes o quanto odeio ter que escrever tudo aquilo que mais tem feito-me doer. 
Sabendo que apenas teve um início, sem saber quando e como existirá um fim.

sábado, 2 de abril de 2011

Quando penso no dia de ontem, mais um dia que acabei, que dei fim, sem querer que esse houvesse.
E sinto ainda, como se fosse agora, que ainda está por perto, sinto como se pudesse quase ver.
E no entanto não vejo. Nem ouço, eu distorço algumas imagens que regressam na minha memória.
Até entender que já estás longe demais. E deixastes ainda por cima, uma poeira enorme no ar, e toda sua bagunça, toda sua desorganização, não fugirá assim como você.
Vai permanecer, para que eu limpe, para que eu cuide.
Vai embassar todos os vidros de minhas janelas, para que eu possa limpar e tentar enxergar algo mais adiante.
Ainda vai sacodir os ladrilhos das ruas, enquanto passares dirigindo para lugares perdidos.
Ainda pode gerar uma ligeira dor, nos meus ossos, no meu peito, na minha cabeça. Mas nada que não se possa curar, e mover, refazer.
Como diversas vezes me refiz de cinzas, as tuas penas não ficaram sujas apenas em mim.
Teus braços não pairaram apenas em meu corpo tímido.
Teus olhos não percorreram apenas por cima de mim.
Até perceber que nada mais faria sentido ali, gritei trovões enquanto chovia.
Despejei tempestades de meus olhos, mais uma vez.
Rasguei meus pensamentos em silêncio outra vez, sem que pudesses notar.
Abria os olhos lentamente, para poder ver-te acordar.
Tentando me aliviar de um pesadelo. Na tentativa de repor um dia que perdi lhe emprestando minha presença falsa e errônea.
Sei que de fato sempre acelero demais, e corro demais, e pulo demais.
Mas para mim não dá mais, não posso mais, viver assim.