Quando penso no dia de ontem, mais um dia que acabei, que dei fim, sem querer que esse houvesse.
E sinto ainda, como se fosse agora, que ainda está por perto, sinto como se pudesse quase ver.
E no entanto não vejo. Nem ouço, eu distorço algumas imagens que regressam na minha memória.
Até entender que já estás longe demais. E deixastes ainda por cima, uma poeira enorme no ar, e toda sua bagunça, toda sua desorganização, não fugirá assim como você.
Vai permanecer, para que eu limpe, para que eu cuide.
Vai embassar todos os vidros de minhas janelas, para que eu possa limpar e tentar enxergar algo mais adiante.
Ainda vai sacodir os ladrilhos das ruas, enquanto passares dirigindo para lugares perdidos.
Ainda pode gerar uma ligeira dor, nos meus ossos, no meu peito, na minha cabeça. Mas nada que não se possa curar, e mover, refazer.
Como diversas vezes me refiz de cinzas, as tuas penas não ficaram sujas apenas em mim.
Teus braços não pairaram apenas em meu corpo tímido.
Teus olhos não percorreram apenas por cima de mim.
Até perceber que nada mais faria sentido ali, gritei trovões enquanto chovia.
Despejei tempestades de meus olhos, mais uma vez.
Rasguei meus pensamentos em silêncio outra vez, sem que pudesses notar.
Abria os olhos lentamente, para poder ver-te acordar.
Tentando me aliviar de um pesadelo. Na tentativa de repor um dia que perdi lhe emprestando minha presença falsa e errônea.
Sei que de fato sempre acelero demais, e corro demais, e pulo demais.
Mas para mim não dá mais, não posso mais, viver assim.
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